Concurso público para a produção de um documentário sobre o processo de reassentamento em Palma – Cabo Delgado

Introdução

  1. Processo de reassentamento involuntário de comunidades

Moçambique está a conhecer uma nova realidade no que se refere ao crescimento económico e social que tem vindo a verificar-se nos últimos anos, impulsionado por investimento de vulto em áreas como Hidrocarbonetos, Minas, Infra-estruturas, Turismo, Agro-Negócios, Florestas, entre outras.

A implementação destes empreendimentos económicos tem suscitado grande procura e ocupação de terra, facto que tem implicado a movimentação de comunidades e de pessoas, para dar lugar à construção de infraestruturas económicas e sociais.

Os investimentos com implicações espaciais interferem directamente nas formas correntes de ocupação do solo, incluindo nos seguintes domínios:

  1. habitação, agricultura, pasto, pesca, acesso a recursos maturais, entre outros;
  2. dinâmicas sociais, hábitos e costumes das comunidades em áreas urbanas e rurais.

 

  • Impactos de deslocações físicas involuntárias de comunidades

Este fenómeno tem geralmente culminado com a necessidade de remover comunidades, famílias e pessoas singulares e reassentá-las em novas regiões. Os impactos dos reassentamentos são múltiplos e complexos, provocando, entre outros fenómenos:

  1. Perturbações de ordem económica, social e cultural de longa duração;
  2. Perda de acesso a recursos naturais: terra, agua, florestas e outros;
  3. Perda de bens patrimoniais materiais e imateriais ou espirituais: habitação, empreendimentos económicos; florestas sagradas; locais de culto; cemitérios, etc.
  4. Perda de redes de coesão social: vida associativa, organizações de ajuda mútua; vizinhança, acesso a equipamento social como escolas, hospitais, etc.

Nessa medida, para contrariar esta série de constrangimentos, o reassentamento deve ser concebido como uma oportunidade para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades afectadas, através da melhoria das suas condições de vida – e não um risco de maior empobrecimento e marginalização. Este é o objectivo preconizado pelo Governo Moçambicano, tal como consagrado nos princípios do Regulamento sobre o Processo de Reassentamento Resultante de actividades Económicas e de outros dispositivos internacionalmente aplicáveis.

  1. O passado e o futuro

Em Moçambique têm vindo a ocorrer diferentes processos de reassentamento de populações, nomeadamente desde 2008, com a expansão da actividade de extracção de carvão em diferentes localidades da Província de Tete. Tais processos alargaram-se às províncias de Nampula, Inhambane, Zambézia e Maputo, derivados da implementação de projectos de diferente natureza, incluindo infra-estruturas económicas e sociais.

Passados quase 10 anos após as primeiras experiências, o balanço actual sobre o impacto dos reassentamentos em Moçambique é reconhecidamente negativo, tal como largamente documentado em estudos de diferentes entidades públicas e privadas, de organizações da sociedade civil e da comunicação social, nacional e estrangeira.

O próximo processo de reassentamento de grande envergadura vai decorrer proximamente no Distrito de Palma, Província de Cabo Delgado, como consequência da implantação da Fabrica de Gás Natural Liquefeito (GNL). Calcula-se que cerca de 471 agregados familiares sejam fisicamente deslocados de diferentes localidades da Península de Afungi, com destaque para a comunidade de Quitupo.

Neste contexto, SEKELEKANI pretende documentar, com a maior profundidade possível, todo o processo de reassentamento das comunidades da Península de Afungi, cujo impacto vai se fazer sentir, não só sobre as comunidades a serem deslocadas fisicamente, como também sobre aquelas dos locais de acomodação e outras com ligações socioeconómicas e culturais indissociáveis.

  1. Objectivo Geral

O objectivo geral é produzir um documentário, que registe, com imagem e som de qualidade, todo o processo de deslocação e acomodação das comunidades da Península de Afungi, em conexão com a construção da GNL na área do respectivo DUAT. O processo de documentação inclui – mas não se limita – as seguintes fases:

  1. Preparação das comunidades, incluindo assinatura de acordos com as famílias e pagamento de indemnizações;
  2. Implementação, incluindo movimentação das populações e seus bens; e
  3. Instalação física, i.e., ocupação efectiva dos espaços pelas famílias deslocadas.
  • Objectivos específicos

De forma específica, e tendo como referência fundamental, as politicas, estratégias e legislação nacional relevantes, bem como princípios estabelecidos por organizações internacionais, sobre processos de reassentamento humano involuntário, o processo da produção do documentário deve compreender:

  1. Fazer uma narração usando o background do historial do Projecto de Gás Natural Liquefeito com dados que descrevam a natureza e dimensão do empreendimento, nomeadamente: espaço físico requerido pelo projecto e respectiva infrastruturas; numero e características sócio-culturais das famílias a serem directa ou indirectamente afectadas;
  2. Documentar questões criticas sobre indemnizações ou compensações das famílias afectadas e processos de resolução de conflitos e ou reclamações;
  3. Documentar questões de garantia de vida sustentável das comunidades directa ou indirectamente afectadas pelo processo do reassentamento;
  4. Analisar criticamente o papel e responsabilidades das entidades públicas (governo) e das empresas em todo o processo;
  5. Analisar criticamente o papel e a responsabilidade das empresas concessionárias;
  6. Analisar criticamente o papel e opiniões de Organizações da Sociedade Civil relevantes;
  7. Fazer um acompanhamento pormenorizado das discussões, cerimónias tradicionais de despedida;
  8. Documentar o processo de chegada, recepção e instalação das primeiras famílias no local de reassentamento, aldeia de Quitunda.

4. Metodologia

Para o alcance daqueles objectivos, o/a consultor/a deverá:

  1. Pesquisar dados sobre o projecto da GNL, as comunidades e os agregados familiares afectados;
  2. Conhecer profundamente o Plano de Reassentamento;
  3. Elaborar um guião ou roteiro do documentário;
  4. Fazer entrevistas a intervenientes chaves (pessoas afectadas, líderes comunitários e religiosos, governo local, representantes da empresa e da sociedade civil);
  5. Observar o equilíbrio de Género na produção do documentário.

 

  1. Produtos Faseados

A entidade contratada deverá submeter cinco produtos faseados, para a sua análise e aprovação pelo SEKELEKANI, nomeadamente:

  • Primeiro produto: Proposta de Plano Detalhado de Trabalho, calendarizado;
  • Segundo produto: Proposta de Roteiro da produção do documentário;
  • Terceiro produto: Primeiro esqueleto de imagem e som do documentário;
  • Quarto produto: Versão preliminar do documentário;
  • Quinto produto: Versão final do documentário: 20 Cópias de DVD em formato digital.
  1. Período de duração da actividade

Esta actividade deverá ser realizada num período não prorrogável de 45 dias úteis.

  1. Modo de candidatura

As produtoras de vídeo interessadas deverão submeter as suas propostas técnicas e de orçamento, as quais devem incluir, entre outros, os seguintes elementos:

  1. O entendimento da entidade candidata dos presentes termos de referência e do escopo do trabalho;
  2. A sua experiencia técnico-profissional, que seja relevante para a actividade em causa.
  3. A composição da equipa de trabalho e respectivos Curricula vitae;
  4. A metodologia do trabalho, com garantia de espaço e mecanismo de discussão com o SEKELEKANI, ao longo de todo o processo de produção do documentário.
  5. Uma proposta financeira devidamente fundamentada, como anexo.

 

Prazo de submissão das candidaturas

 As candidaturas deverão ser submetidas em envelope fechado, até as 11h50 minutos do dia dia 8 (oito) de Setembro de 2017, no seguinte endereço físico:

 

Centro de Estudos e Pesquisa de Comunicação SEKELEKANI

Av. Vladimir Lenine, nº2964. Cidade de Maputo